quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Saúde

Para o público em geral, o termo “trabalhadores da saúde” evoca a imagem de médicos e enfermeiras. Embora não faça justiça à multidão de pessoas que fazem um sistema de saúde funcionar, isso reflete as expectativas do público: encontrar médicos e enfermeiras bem formados, capacitados – e dignos de confiança –, que os ajudem a ficar bem e que façam o melhor possível para auxiliá-los.
A confiança não é algo automático: ela deve ser produzida e negociada ativamente. Se ganha lentamente e se perde com rapidez quando as expectativas se frustram. Em muitos países, a instituição médica perdeu sua aura de infalibilidade, imparcialidade e dedicação aos interesses do paciente. Incentivada pelos noticiários da imprensa sobre uma prestação disfuncional de cuidados em saúde, a confiança pública nos trabalhadores de saúde está-se erodindo no mundo industrializado assim como em muitos países em desenvolvimento. As pessoas pobres, em particular, podem demonstrar ceticismo ou cinismo quando falam sobre seu médico, profissional de enfermagem ou parteira: “Preferimos o tratamento doméstico a ir ao hospital, onde um profissional de enfermagem com raiva pode nos injetar o remédio errado”. A confiança é posta em perigo cada vez que os pacientes não conseguem obter os cuidados de que necessitam ou pagam muito caro pelos cuidados que recebem. Quando os pacientes passam por situações de violência, abuso ou chantagem em instalações de saúde, sua frágil confiança é destruída.
As conseqüências da perda de confiança vão além da relação individual entre usuário e provedor. Uma sociedade que não acredita nos seus trabalhadores de saúde os desencoraja a seguir essa carreira. A erosão da confiança nos trabalhadores de saúde também afeta aqueles que geram e dirigem o sistema de saúde. A administração responsável pelo sistema de saúde – governos, instituições de seguros de saúde e organizações profissionais – tem de fazer trocas difíceis, ou seja, decidir entre demandas que competem entre si: o direito de acesso de cada cidadão a produtos e serviços de cuidados em saúde; a necessidade de governar o custo de incorporar esses bens e serviços; e as necessidades dos profissionais e outros recursos humanos que entregam esses bens e serviços. As características do setor Saúde com seu grande número de atores, assimetria de informações e conflitos de interesses o tornam particularmente vulnerável ao abuso do poder constituído para ganho particular. O público não mais dá como certo que essas trocas são sempre feitas com justiça e eficácia, e nem os trabalhadores de saúde da linha de frente.
Fonte: Relatório Mundial de Saúde 2006 da Organização Mundial da Saúde

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