sábado, 22 de setembro de 2012

Não vai ter segundo turno.


     O Rio de Janeiro se consolidou nos anos 2000 como a capital popular do Brasil. Nesta década o Rio ultrapassou São Paulo como a maior criadora de tendências nacionais além de estar muito mais próxima culturalmente ao resto do país do que a capital econômica.

     Nas últimas edições das eleições, o RJ vem tentando criar outra tendência, a do voto consciente em larga escala, com uma boa parte dos eleitores tentando eleger um candidato que fugia da mesmice. Essa é uma atitude muito natural para qualquer sociedade, mas muito nova para a sociedade brasileira.

     Na corrida eleitoral de 2012 o carioca está tentando repetir o fenômeno que ocorreu com o Gabeira nas edições anteriores, mas desta vez com o Marcelo Freixo que acabou de realizar um grande comício no Centro da cidade.

     O carioca está ressuscitando sua fina veia política depois de 20 anos e está procurando saber qual o melhor candidato antes de votar.

     Mas, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, pois o carioca ainda analisa superficialmente os candidatos e a política. Argumentos e assuntos básicos e simples ainda tem muita importância para o eleitor, enquanto que a complexidade dos temas é deixada de lado, ou seja, o carioca não sabe ler as entrelinhas.

     Ainda veremos muita discussão sobre transporte, saúde, educação, segurança e emprego (a mão do FHC) e nunca saberemos quais as propostas sobre tributos, planejamento urbano, comunicações, projetos de leis do prefeito, etc, a não ser que você vá aos sites das campanhas, o que não acontecerá.

     O Gabeira era um candidato do PV sustentado pela aliança com o PSDB, apoiado pela elite, e mesmo assim foi colocado como o político novo, culto, que iria praticar a nova política. Disputou acirradamente a primeira tentativa e, ao perder, deixou revoltados seus eleitores que colocaram a culpa no voto burro e desinformado das massas que elegeriam a aliança corrupta Cabral-Paes.

     Dois anos depois a aprovação dessa aliança ainda era forte e os votos de Gabeira na capital não o sustentaram contra o resto do estado. Cabral, o melhor governador dos últimos 25 anos era reeleito tranquilamente.

     Agora, no terceiro round, assume essa posição um candidato que tem na sua integridade sua única credencial, pois sua plataforma de governo é típica dos socialistas, baseada na crítica e adaptação do que já está sendo feito, mas de uma forma que seja correta e sem corrupção (mas todos dizem isso).

     O carioca está tão desesperado por uma solução na política que ignora que o Freixo é um socialista, que se curvará sem piscar para a decisão do seu partido, que está repleto de socialistas sedentos por uma utopia política que não existe no planeta Terra, simplesmente porque existirá a oposição e as outras esferas de governo que vão destruir todas as medidas de um governo do PSOL. 

     O eleitor do Freixo que busca algo diferente ignora que o governo Cabral-Paes é o melhor, mais eficiente e mais aprovado dos últimos 30 anos ou mais, se colocando entre os 5 melhores da história do RJ após Dom Pedro II, mesmo fraudando licitações e se associando à milícias e máfias diversas.

     Logo, a campanha do Freixo adotou a tática tradicional de oposição de reclamar e criticar até a exaustão, cabível nesse momento para tentar minar a imagem do prefeito, para fazer um debate mais rico no segundo turno. Esta é uma tática perigosa pois se ele não chegar ao segundo turno vai enterrar a imagem do partido e, se chegar, a sua rejeição será muito maior.

     O Freixo cresceu pois ganhou o voto dos indecisos (alguns nulos também) até agora, mas são esses eleitores que não fazem um julgamento prévio dos candidatos e esperam as campanhas e debates para se decidirem e que tem mais vontade de conteúdo e rejeitam o tradicionalismo.

     Portanto, além da super aprovação do Paes, que resolveu ou está resolvendo os maiores problemas da cidade (mesmo que a solução não seja perfeita), o Freixo tem que lidar a partir de agora com o voto dos indecisos, que estão do seu lado agora, mas estão sempre avaliando e podem muito bem migrar para os nulos ou não irem votar.

      A campanha do Freixo tem que tomar uma decisão estratégica muito difícil: quando parar de insistir nas críticas e minar os votos do Paes para mostrar conteúdo e continuar ganhando os indecisos e nulos.

     Eu não acredito que a campanha do Freixo saberá como desenhar essa estratégia pois me parecem decididos a mostrar conteúdo no segundo turno, entretanto, estatisticamente, os votos do Paes já estão completamente sólidos, seguindo a aprovação dele.

      Por isso, a pergunta de 1 milhão de reais é: Vocês estão animados para o confronto Paes/Freixo em 2014?

3 comentários:

Thales disse...

"O eleitor do Freixo que busca algo diferente ignora que o governo Cabral-Paes é o melhor, mais eficiente e mais aprovado dos últimos 30 anos ou mais, se colocando entre os 5 melhores da história do RJ após Dom Pedro II, mesmo fraudando licitações e se associando à milícias e máfias diversas."

Sou eleitor de Marcelo Freixo, reconheço alguns avanços que tivemos no Rio de Janeiro, mas não acho que devemos nos acomodar e aceitar que política envolve fraudar licitações e associação a milícias e máfias diversas -- acrescento ainda ao pacote alianças do tipo Maluf, pra citar o emblemático caso paulistano.

Parece-me que quem aceita esse tipo de situação tem medo de estar errado. Eu sempre vou votar de modo a tentar melhorar a política que é praticada no país. Se eu apostar em um candidato, ele vencer as eleições e depois sua gestão for boa, paciência; pelo menos eu tentei. O que não dá é continuar defendendo um modelo que sabidamente faz mau uso dos recursos públicos, retornando péssimos serviços para a população. (Como morador de São Paulo, uma das coisas que mais me chamam a atenção por sua precariedade no Rio é o transporte. Os ônibus e seus motoristas dispensam comentários. O metrô então... Mais caro que o daqui, que te permite andar por 11 linhas e cobra apenas meia passagem de estudantes -- primeiro, segundo e terceiro graus).

E o mais triste é que, se você estiver certo, e realmente não houver segundo turno, mais uma vez não teremos a oportunidade de ver como seria um governo que se propõe a fazer a coisa de um jeito diferente. E, sem saber como seria -- ou achando que sabem --, os que têm medo de errar continuarão falando em "utopia"...

Marcus Vinícius disse...

Thales, não acho que seja medo de errar, o eleitor viu que o governo atual gerou uma melhora prática substancial nos últimos anos, principalmente após o Desaster Maia, e quer saber se o opositor é melhor. Eu entendo que a campanha do Freixo deveria tirar as acusações como principal tópico e passar a mostrar o indivíduo íntegro, bom legislador, e se aproximar ao máximo do centrismo, pois o eleitor carioca tem horror à ideologias.

Thales disse...

Parece que eles te ouviram... https://www.youtube.com/watch?v=JTCof8rzOpY&feature=player_embedded